22/09/2022
De acordo com o DataSus, nos últimos 20 anos, os casos de suicídio subiram de 7 mil para 14 mil, mais de um a cada hora. O cenário vem gerando alerta também nas empresas e escolas de todo o país. A Caliandra Saúde Mental, consultoria especializada em soluções de cuidados à saúde mental e treinamento de liderança, registrou aumento de 40% no número de pronto-atendimentos psiquiátricos realizados no último ano em sua central de SOS Saúde Mental. “Este tipo de serviço, voltado para funcionários de empresas, viabiliza o acolhimento e direcionamento da questão na hora em que ela está acontecendo, como um pronto-socorro de saúde emocional. Temos uma equipe de médicos psiquiatras disponível e treinada para atendimento 24 horas por dia, 7 dias na semana, pois sabemos que, em muitos casos, tal sofrimento mental não pode esperar”, conta Erica Siu, CEO da empresa.
Segundo o Dr. Arthur Guerra, psiquiatra e cofundador da Caliandra Saúde Mental, é importante que as instituições pensem na prevenção ao suicídio no cotidiano do bem-estar emocional. Por exemplo, em campanhas com palestras e encontros focadas na sensibilização dos colaboradores quanto ao tema saúde mental, quebra do estigma que ainda ronda este assunto, conscientização e orientação. Além disso, as ações de bem-estar e qualidade de vida implementadas na empresa precisam ser divulgadas para incentivar o autocuidado contínuo entre os colaboradores.
“Quando falamos em suicídio, é importante saber que ele é o evento final de uma complexa rede de fatores e que não há uma causa única e, sim, várias. Dentre os diversos fatores relacionados, frequentemente há questões de saúde mental – especialmente depressão, transtorno bipolar e transtornos por uso de álcool e outras drogas -, além de perdas, solidão, discriminação, término de relacionamento, problemas financeiros e violência. Aspectos sociais, psicológicos e culturais também contribuem nesse complexo cenário”, explica o médico.
Existem alguns sinais que podem servir de alerta para os líderes e gestores identificarem se alguém da equipe está passando por dificuldades emocionais:
- Diminuição do desempenho no trabalho, dificuldade recente em concluir tarefas ou de se concentrar nas atividades;
- Afastamento dos colegas, isolamento;
- Mudanças no comportamento, como inquietação, irritabilidade, impulsividade, imprudência ou agressividade física ou verbal;
- Início ou aumento no consumo de álcool ou drogas.
Boas práticas para ressignificar a saúde mental na equipe
Falar sobre o suicídio não funciona como um gatilho para alguém que considera a possibilidade de tirar sua vida. Pelo contrário, abordar uma pessoa em sofrimento geralmente diminui a angústia, além de mostrar que há alguém que se preocupa com ela e está disponível para ajudá-la.
Abaixo seguem boas práticas que podem ser implementadas pelas instituições a fim de promover a saúde mental e evitar casos de suicídio.
Abordagem sensível e informativa
O especialista ressalta que a abordagem do tema deve ser feita de forma sensível e informativa para pequenos grupos dentro das instituições. “Um acompanhamento para prevenção do suicídio é importante em qualquer instituição e deve envolver toda a equipe, desde a diretoria até os colaboradores. No caso das escolas, é preciso adequar a abordagem de acordo com o público, pois uma palestra para os pais e professores precisa ser diferenciada da conversa com os alunos”, explica o psiquiatra.
Atendimento profissional especializado
O médico reforça que, quando acontece um caso de suicídio dentro de uma instituição, é essencial recorrer a um atendimento profissional especializado. “É preciso oferecer um cuidado sistêmico, muito mais complexo, mais profundo e significativo para definir quais serão os próximos passos, já que são acontecimentos muito atípicos, e que, na maioria das vezes, as pessoas não possuem recursos para lidar efetivamente com a saúde mental daqueles que foram impactados”, afirma.
Para reforçar esta tese, o The Prince’s responsible business network realizou um estudo que revelou que a cada suicídio, 135 pessoas são afetadas, sendo que, dentro deste número, 25 pessoas próximas da vítima podem desenvolver ideias suicidas após o ocorrido.
Campanhas de prevenção e posvenção
O Dr. Arthur destaca o quanto é importante investir em ações em prol da prevenção e até mesmo posvenção de um suicídio. De acordo com o especialista, as boas práticas que ajudam neste cenário são reuniões, treinamentos e divulgação de conteúdos informativos para que as empresas, escolas e outras instituições saibam como abordar o tema e até mesmo aprendam a lidar com uma pessoa que apresenta sinais de que está com sofrimento emocional importante, além, é claro, de indivíduos que desenvolvam conversas e ideias que surgem em decorrência de pensamentos suicidas.
Dentre as práticas que auxiliam as instituições a cuidarem da saúde mental após o suicídio está o atendimento psiquiátrico 24 horas, disponível ininterruptamente, para garantir um rápido acolhimento e avaliação imediata sobre a gravidade do caso, para eventual encaminhamento do tratamento especializado mais adequado.
“A primeira regra do cuidado é cuidar de si mesmo. Em situações extremas, o atendimento no local e outros recursos aplicados pela equipe de profissionais capacitados são primordiais. Temos tido retornos muito positivos em relação ao atendimento 24×7, desde a humanização até a escuta atenciosa e, consequentemente, a melhoria dos casos. Estes feedbacks, reforçam a confiança no desenvolvimento deste trabalho, pois sabemos que estamos no caminho certo do cuidado com a saúde mental”, finaliza o psiquiatra,