07/06/2022
Dr. Arthur Guerra
Como cofundador da Caliandra, empresa que presta consultoria a organizações que desejam melhorar a saúde mental de seus colaboradores, tenho testemunhado o grande número de pessoas esgotadas, física e mentalmente.
Há alguns anos – e isso inclusive era uma tendência -, muitas organizações vinham se dedicando a melhorar o ambiente de trabalho. Começou-se com o ambiente físico. Paredes foram quebradas para se pudesse ver os colegas e circular mais livremente e passou-se a adotar o modelo rotativo de estações, quer dizer, cada colaborador podia escolher em que local trabalharia quando chegasse ao escritório.
Algumas organizações, particularmente as startups, que via de regra têm uma estrutura menos engessada e mais flexível, chegaram a investir em “brinquedos” como escorregadores, para que seus empregados pudessem se sentir mais relaxados e ter um momento de lazer no meio do expediente.
A condição física do ambiente de trabalho, claro, é importantíssima, mas é suficiente? Claro que não. Exatamente por isso muitas organizações passaram também a investir em pessoas, nas pessoas que, afinal de contas, são a alma de cada modelo de negócios. Pode parecer óbvio, mas eram poucas a que dedicavam tempo, estudos e dinheiro em capital humano.
Investir em pessoas não é um caminho fácil nem barato. Mas há um forte motivo de porque elas deveriam se preocupar com isso: o econômico. Tive acesso a uma pesquisa realizada pela Vitalk, Talenses e Fundação Dom Cabral e recém-divulgada que confirma que bem-estar emocional e alta performance andam juntos.
Estar bem emocionalmente traz repercussões positivas não somente para o colaborador, em sua performance, mas também para seus relacionamentos dentro e fora da empresa.
Por isso, torna-se primordial para as empresas buscar gerar esse bem-estar emocional que falta a tantos empregados. O primeiro passo deve ser dado pelas altas e médias lideranças. É preciso abandonar definitivamente o modelo antigo “um manda, outro obedece”, para substitui-lo por um modelo colaborativo, em que líderes e liderados vão cooperar e crescer juntos.
São as lideranças também aquelas que podem identificar precocemente casos de sofrimento emocional em seus times e endereçar o problema. Ter esse olhar cuidadoso, humanizado, é construir bem-estar emocional.
Mas segue um alerta: não é possível cuidar dos outros antes de cuidar de si mesmo. O autocuidado deve estar no topo da lista de prioridades de todo líder.
Não devemos nos esquecer que as lideranças são exemplos para os times. Líderes que se cuidam e que estão genuinamente preocupados com o bem-estar de suas equipes são aqueles capazes de trazer mais resultados para as suas organizações.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.