13/10/2020

Dr. Arthur Guerra

Preste atenção e veja se você se identifica com uma ou mais dessas situações descritas abaixo:

  • - você leva menos de 1 minuto para olhar o celular assim que acorda de manhã;
  • - o celular - e não uma pessoa - é a última coisa com a qual você interage antes de dormir;
  • - você leva o celular para o banheiro;
  • - fica com o celular ao seu lado enquanto faz as refeições, independentemente de haver ou não outras pessoas à mesa;
  • - em meio a um diálogo com algum familiar ou amigo, você dá uma espiada - ou muitas espiadas - no celular;
  • - você gasta mais do que 4 a 5 horas do seu dia preso à tela do celular.

Se você se identificou com alguns desses comportamentos, devo dizer que é bem provável que você tenha desenvolvido dependência do aparelho. Eu não sou crítico da tecnologia, até porque ela nos ajudou a preencher o vazio causado pelo distanciamento social e vem nos ajudando em uma série de outras coisas no dia a dia.

Sou crítico, sim, do uso obsessivo dela, porque a dependência gera impactos psicológicos, fisiológicos e sociais que afetam grandemente não apenas a vida do usuário, mas também de quem o cerca. Por exemplo, você deve ter percebido ter mais dificuldade para dormir quando passa o dia todo checando o que há de novo, jogando ou assistindo vídeos no celular, ou que, quanto mais você fica colado ao seu aparelho, mais ansioso fica.

O aumento do uso do celular não é novidade. Ele cresceu muito desde o surgimento das redes sociais e dos aplicativos de envio de mensagens. A grande questão é que a pandemia acabou por incentivar o uso obsessivo do aparelho. Não foram poucos os que passaram a checar as notícias sobre o coronavírus quase que compulsivamente, sem se dar conta de que isso só fazia alimentar ainda mais o medo e a ansiedade.

Se você se identificou com as situações que mencionei acima, provavelmente deve estar pensando: dá para me livrar dessa dependência? Dá, mas, em alguns casos, é até necessário o uso de medicamentos psiquiátricos, que vão poder auxiliá-lo no manejo da dependência.

O importante é que você procure encontrar algo que lhe dê prazer tanto quanto o que você tem quando vai mexer no seu celular. É o que chamamos de psicoeducação. A ideia é substituir um prazer que traz consequências danosas por outro que lhe trará benefícios.

Estabelecer uma rotina prazerosa é uma das melhores ferramentas. Pode ser ouvir música, sair para dar uma volta na rua ou fazer alguma atividade física. Praticar um esporte tem um impacto positivo tremendo, pois é capaz de aumentar o nosso bem-estar e de reduzir o estresse e a ansiedade.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

Fonte: forbes.com.br/colunas/2020/10/arthur-guerra-voce-acha-que-esta-viciado-no-celular-provavelmente-voce-esta