01/08/2023
Arthur Guerra
Recentemente, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) publicou a sua mais nova edição do relatório Álcool e Saúde dos Brasileiros.
Uma das informações inéditas deste ano e que vale chamar a atenção é que pouco mais da metade dos brasileiros (57%) não sabe o que significa beber com moderação ou acha que seu limite para o álcool é maior do que o estabelecido pelas autoridades de saúde.
Além disso, é justamente entre os bebedores abusivos que se encontra a maior parcela dos que subestimam a quantidade que ingerem, acreditando beber com moderação (75%).
Isso é preocupante porque o consumo de álcool está tão naturalizado entre os brasileiros – basta ver que damos uma designação carinhosa à cerveja: “cervejinha” -, que a percepção da ingestão abusiva foi alterada.
A grande questão é que, embora tenhamos uma definição do que significa beber moderadamente (no máximo, 2 doses padrão de álcool em um único dia ou 14 doses por semana para os homens, e 1 dose em um único dia ou 7 doses por semana para mulheres), o fato de cada pessoa responder de maneira diferente ao álcool contribui para essa percepção equivocada.
O álcool sempre entra no corpo da mesma forma (pela boca), vai para o fígado, é metabolizado, cai na corrente sanguínea e chega ao cérebro, onde vai causar efeitos de euforia e de relaxamento.
Algumas pessoas, porém, metabolizam o álcool mais do que outras; ou mais rapidamente do que outras. O resultado é que cada pessoa, ao beber, ficará impactada pela bebida de um modo diferente. Alguém que bebe exageradamente um dia, mas não fica alcoolizado, pode passar a acreditar que a quantidade que está ingerindo é razoável.
Se somarmos a isso o fato de que se confunde consumo abusivo com dependência, talvez consigamos explicar esses resultados da pesquisa. Muitas pessoas acham que só tem problema com o álcool quem se tornou dependente dele.
O dependente bebe de forma abusiva, mas nem todo bebedor abusivo (mesmo aqueles em cujo corpo o álcool traz menos efeitos) já se tornou ou se tornará dependente. Isso não significa que, com o tempo, essas pessoas estarão livres dos efeitos deletérios das bebidas alcoólicas sobre a saúde delas.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.