01/06/2021
Dr. Arthur Guerra
Quando o Google surgiu e tornou-se a ferramenta de busca mais utilizada no mundo, logo surgiu o verbo “to Google” ou, em português, dar um Google. Agora, com a pandemia e a explosão das plataformas digitais de reunião, surge outro termo: “Zooming” ou “fazer um Zoom”, em referência a esse aplicativo de videoconferência. O uso dessas plataformas cresceu tanto que já se fala em “fadiga pelo Zoom”.
O que seria isso, afinal? É a sensação de energia drenada que muitos sentem depois de um dia repleto de reuniões virtuais, um cansaço mental extremo. Recentemente, pesquisadores da Universidade Stanford (EUA) publicaram um estudo que avaliava os efeitos psicológicos dessa sucessão de videoconferências. Eles descobriram coisas interessantes e que têm solução.
Os pesquisadores constataram que nas reuniões virtuais ficamos em permanente estado de hiperexcitação. Explico: na maior parte das vezes, o que temos em tela é quase tão somente o rosto do nosso interlocutor. No máximo, o vemos do ombro para cima. Isso faz com que percamos a possibilidade de fazer uma leitura mais subjetiva daquela pessoa, que vem do modo como ela se move, movimenta as mãos etc. Assim, o nosso cérebro passa a se concentrar muito mais nas palavras ditas.
Na tela, por causa da proximidade que temos da câmera, o rosto das pessoas parece muito maior do que é de fato. Na natureza, essa proximidade tão grande é interpretada como fonte de perigo ou de grande intimidade. De qualquer forma, isso hiperexcita o cérebro, que, ao final do dia, fica exausto.
É possível minimizar esse cansaço. Primeiro, tentando fazer combinados. Se você é líder, procure sugerir ao seu time que as reuniões sempre terminem 10 a 15 minutos antes do horário combinado, de forma a que todos possam levantar-se um pouco da cadeira, ir ao banheiro, sentar um pouquinho no sofá, comer alguma coisa. Mesmo que você não seja líder de uma equipe, sugira isso ao seu chefe. Com a pandemia, boa parte das lideranças aprendeu a ser mais flexível e menos rígida.
Procure afastar-se mais da tela, de maneira a permitir que o seu interlocutor veja mais o seu corpo e as suas mãos. Sugira que seu colega faça o mesmo.
Se for possível a você, procure deixar o seu notebook ou computador em um ambiente que não receba a luz direta do sol. Esse esforço visual tremendo para enxergar o interlocutor em um ambiente muito iluminado também cansa demais.
Por fim, procure organizar as reuniões de forma que os assuntos mais importantes sejam tratados logo no início. Assim, ninguém será pego de surpresa ao final do encontro com alguém dizendo ter um tema de extrema importância a ser tratado, o que poderá alongar ainda mais a reunião.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.