02/05/2023
Arthur Guerra
Brasil é um país de ansiosos. Aproximadamente 9% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica, ou seja, aquela que traz prejuízos à vida de quem sofre com esse transtorno mental e dos que convivem com ele, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Assim, chances há de você relacionar-se com alguém com esse quadro. Pode ser bastante desafiador e, por vezes, desgastante, porque o ansioso costuma fazer repetidamente as mesmas perguntas, não dar tempo ao outro de respondê-las, ter uma lista grande de preocupações na cabeça, inquietar-se com frequência e ter dificuldade para regular suas emoções.
Como lidar com isso sem deixar que a ansiedade afete a relação de vocês?
#1: Primeiro, entendendo que seu ente querido não age assim porque quer. A ansiedade é uma resposta do corpo a uma condição de estresse ou perigo. Assim, batimentos cardíacos mais acelerados, respiração mais curta e rápida e turbilhão de pensamentos nada mais são do que o corpo se preparando para lutar contra o perigo ou fugir dele. Ela pode inclusive ser benéfica em algumas situações, porque nos coloca em alerta.
A questão não é a ansiedade propriamente dita, até porque todos nós a temos em algum grau. O problema é quando a ansiedade é desencadeada ainda que o estresse ou o perigo real não estejam presentes.
Por exemplo, quando o cartão de crédito é recusado por uma máquina ou quando se fica ansioso ou fazer uma viagem de carro e imaginar que um acidente poderá acontecer. Ficar permanente em alerta tem um custo alto para o corpo e para a mente.
#2: Muitas vezes, o quadro ansioso pode parecer engraçado para quem vê de fora. Não responda de forma jocosa. Quem convive com esse transtorno sofre. Brincar com isso é tratar o seu ente querido de forma desrespeitosa e humilhante.
Procure observar se há casos concretos que pioram a ansiedade dele e como ela se manifesta. Isso o ajudará a evitar que você o exponha a essas situações. No caso de haver um padrão de resposta – por exemplo, negar algo -, você poderá se preparar melhor para enfrentá-lo, ao invés de discutir ou ficar chateado.
#3: Se você notou que o sofrimento está grande, vale um olhar mais atento e carinhoso, uma conversa. Ofereça o seu apoio, sugerindo, por exemplo, acompanhá-lo a uma consulta médica. Apoiar não é ter o controle sobre o problema do outro, mas estar próximo, compartilhar ideias, ajudá-lo a ajudar a si mesmo.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.