05/07/2023
Arthur Guerra
Primeiro, começo dizendo como não se deve agir numa situação como essa. Não minimize o problema do seu colega. Muitas pessoas, buscando ser empáticas, falam coisas do tipo “não é bem assim; tente ver a vida por outro ângulo”. Transtornos mentais não surgem porque fizemos isso ou aquilo.
Não brinque. É realmente tenso ouvir de um colega que ele está enfrentando uma questão séria. Mas não se reduz a tensão com uma piadinha, uma brincadeira.
Não adianta dizer a esse seu amigo que você passou pela mesma coisa e sabe como é. Não só a maneira como alguém enfrenta um transtorno mental é muito singular, como o que o seu colega busca é compartilhar uma angústia. Não se trata de falar de você, mas de abrir espaço a ele para que ele possa desabafar.
Dito isto, como agir? Pare tudo o que você está fazendo e, especialmente, desligue o telefone celular. Não é fácil para alguém abrir algo que é tão íntimo. Se esse amigo escolheu você para compartilhar, é porque ele confia em você. Dividir a atenção desse momento com um telefone celular seria, no mínimo, desrespeitoso.
Ouça com atenção e carinho o que esse colega está querendo dizer a você quando conta o problema que está passando. Será que seria um pedido de socorro? Será que ele não sabe como agir e quer a sua opinião? Será que ele tem isso engasgado e quer apenas aliviar a tensão? Será que precisa de ajuda para buscar um médico?
Se, ao ouvi-lo, você perceber que seu amigo está sofrendo muito com a situação, e tendo grande prejuízo no trabalho e no dia a dia, que tal sugerir a ele (ou mesmo acompanhá-lo) que busque um profissional da saúde em que ele confia para que seja avaliado e possa, eventualmente, iniciar um tratamento?
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.