06/07/2021
Dr. Arthur Guerra
Não há dúvida de que a pandemia fez com que a maioria das pessoas que já faziam uso do álcool passasse a beber mais. Muita gente que costumava se reunir com os amigos aos fins de semana para conversar e tomar algo passou a beber em casa, quase que diariamente. Outros, que tomavam um drinque quando chegavam do trabalho, para relaxar, viram que, com o home office, podiam eventualmente beber na hora do almoço, ou de tarde.
Tenho escutado muita gente querendo saber se esse aumento de consumo deveria preocupá-las. Me perguntam: “Arthur, será que eu fiquei dependente do álcool”? Se você se faz esta pergunta, saiba que está no caminho certo, pois o simples questionamento é uma atitude preventiva, que provavelmente o freará antes de você ter perdido o controle do consumo de bebidas alcoólicas.
Três são os sinais mais importantes de que a ingestão de álcool deixou de ser normal para se tornar doentia. O primeiro alerta é dado pela família. É ela que nota quando o ente querido deixou de beber socialmente para ingerir álcool a qualquer hora do dia, por qualquer motivo. Os filhos, mesmo os pequenos, notam isso muito rapidamente, principalmente se o resultado desse consumo são brigas entre os pais.
O consumo patológico de álcool primeiro é percebido pela família e, depois, pelos colegas de trabalho ou supervisores. O rendimento cai, a pessoa fica mais dispersa, falta a reuniões….
Junto com a mudança de comportamento, vêm as alterações físicas. O álcool é extremamente calórico. Quem está dependente dele e faz uso todos os dias, muitas vezes ao dia, ganha peso, a barriga cresce, o rosto e as mãos ficam inchados e mais avermelhados. Esse é um sinal claro e bastante perceptível de dependência alcoólica.
Por fim, o que muda são os resultados dos exames laboratoriais. A medição das enzimas do fígado mostra um aumento considerável de valores, sinal de que o fígado já não está dando conta de tanto álcool. A pressão arterial também fica alterada, bem como os exames que medem as taxas de glicose (açúcar no sangue).
O que determina a dependência é menos a quantidade de bebidas alcoólicas que se ingere e mais a relação que se tem com elas; uma relação que deixou de ser saudável para se transformar em algo que só faz mal à pessoa e a quem convive com ela.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.